Comentários às declarações de António Franco Fernandes

os escravos tudo perdem em seus grilhões, inclusive o desejo de se livrarem deles; apreciam a servidão, como os companheiros de Ulisses estimavam o próprio embrutecimento.”
Jean-Jacques Rousseau

Os comentários à posição de António Franco Fernandes fizeram-me lembrar uma frase que eu pensava ser de Tucídides que dizia mais ou menos o seguinte: 
Numa Democracia, perante um perigo iminente de tomada da cidade pelo Inimigo, e é dada a escolha entre a Liberdade e a Escravidão, tendencialmente a multidão escolhe  a Escravidão. Numa Oligarquia, escolhe-se a guerra".
Rousseau fez similares críticas sobre o alheamento da multidão dos assuntos Públicos:
Numa cidade, bem dirigida, todos votam nas assembleias; sob um mau governo, ninguém aprecia dar um passo para isso fazer, porque ninguém se toma de interesse pelo que se faz, prevendo que a vontade geral não prevalecerá, e porque, enfim, os cuidados particulares tudo absorvem. As boas leis permitem que se façam outras melhores; as más conduzem às piores. Tão logo diga alguém, referindo-se aos assuntos do Estado, que me importo? pode-se ter a certeza de que o Estado está perdido.”
Não vi esses comentadores a criticar o GR dar 28 Milhões às Sociedades de Desenvolvimento, nem a participar numa qualquer manifestação contra a Marina do Lugar de Baixo ou a melhoria do Serviço Regional de Saúde, nem a exigir a demissão do diretor que permitiu o furto de pedras das ribeiras durante anos.

Rousseau também disse sobre a multidão:
dais maior atenção ao vosso ganho que à vossa liberdade, e receais menos a escravidão que a miséria.”
São incapazes de perceber que com a escravidão vem a miséria, e é o cumprimento das leis que impede a escravidão.

Por fim cito Rousseau para mostrar a importância do Correio da Madeira:
O povo, de si mesmo, sempre deseja o bem; mas nem sempre o vê, de si mesmo. A vontade geral é sempre reta; mas o julgamento que a dirige nem sempre é esclarecido. E necessário fazer-lhe ver os objetos tais como são, e muitas vezes tais como devem parecer-lhe; é preciso mostrar-lhe o bom caminho que procura, protegê-la da sedução das vontades particulares, aproximar de seus olhos os lugares e os tempos, equilibrar o encanto das vantagens presentes e sensíveis com o perigo dos males afastados e ocultos. Os particulares vêem o bem que rejeitam, o público deseja o bem que não vê. Todos igualmente necessitam de guias; é preciso obrigar uns a conformar suas vontades com sua razão; é necessário ensinar outrem a conhecer o que pretende. Então, das luzes públicas resulta a união do entendimento e da vontade no corpo social; dá o exato concurso das partes e, finalmente, a maior força do todo. Eis de onde nasce a necessidade de um legislador.”
Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 25 de Março 2020 08:55
Texto e título enviados pelo autor. Ilustração CM.